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sábado, 3 de setembro de 2011

Um pouco sobre o conceito de ideologia em Marx e o materialismo histórico



Em vários outros posts deste blog eu já havia feito referência a dois conceitos fundamentais do pensamento de Marx: o de "ideologia" e o de "materialismo histórico". Tentarei agora, através de algumas citações do primeiro volume da obra "A ideologia alemã" ("Feuerbach - A contraposição entre as cosmovisões Materialista e Idealista"), de autoria de Marx e Engels, oferecer uma visão geral desses conceitos.
Ao inverter a dialética hegeliana de cabeça para baixo, "colocando-a de pé", Marx demonstrou que o homem não pensa para depois entrar ou viver no mundo. Ele primeiro está no mundo, vivo, e só depois disso é que pensa. Assim,
"...o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história, é que todos os homens devem estar em condições de viver para poder 'fazer história'. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter moradia, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro fato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam que haja a satisfação dessas necessidades, a produção da própria vida material." (MARX, ENGELS, 2005, p. 53)
E para que essa produção da própria vida material aconteça, o homem estabelece relações sociais, de onde se segue que
"... um modo de produção ou uma determinada fase industrial estão sempre ligados a uma determinada forma de cooperação e a uma fase social determinada, e que essa forma de cooperação é, em si própria, uma 'força produtiva'; decorre disso que o conjunto das forças produtivas acessíveis aos homens condiciona o estado social e que, assim, a 'história dos homens' deve ser estudada e elaborada sempre em conexão com a história da indústria e do intercâmbio." (Ibid., p. 55)
Veja bem o final da última frase: "a 'história dos homens' deve ser estudada e elaborada sempre em conexão com a história da indústria e do intercâmbio." Por essa razão,
"A produção de ideias, de representações e da consciência está, no princípio, diretamente vinculada à atividade material e o intercâmbio material dos homens, como a linguagem da vida real. As representações, o pensamento, o comércio espiritual entre os homens, aparecem aqui como emanação direta do seu comportamento material. O mesmo ocorre com a produção espiritual, tal como aparece na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica, etc, de um povo." (Ibid., p. 51)
Disso ele conclui que "não é a consciência que determina a vida, mas a vida é que determina a consciência." (Ibid., p. 52)
"A consciência, consequentemente, desde o início é um produto social, e o continuará sendo enquanto existirem homens. A consciência é, antes de tudo, mera consciência do meio sensível mais próximo e consciência de uma interdependência limitada com as demais pessoas e coisas que estão situadas fora do indivíduo que se torna consciência." (Ibid., p. 55)
Mas a consciência comum de uma determinada época não expressa as relações sociais da forma como elas realmente são. Essa consciência é uma expressão das relações ideais da classe dominante, que por dominar materialmente, domina também espiritualmente:
"As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideais dominantes; ou seja, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo sua força espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe também dos meios de produção espiritual, o que faz com que sejam a ela submetidas, ao mesmo tempo, as idéias daqueles que não possuem os meios de produção espiritual. As idéias dominantes, são, pois, nada mais que a expressão ideal das relações materiais dominantes, são essas as relações materiais dominantes compreendidas sob a forma de ideias; são, portanto, a manifestação das relações que transformam uma classe em classe dominante; são dessa forma, as ideias de sua dominação." (Ibid., p. 78)
"... cada nova classe que ocupa o lugar da que dominava anteriormente vê-se obrigada, para atingir seus fins, a apresentar seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade; ou seja, para expressar isso em termos ideais; é obrigada a dar às suas ideias a forma de universalidade, a apresentá-las como as únicas racionais e universalmente legítimas." (Ibid., p. 80, grifo nosso)
Mas neste ponto geralmente surge a seguinte dúvida, principalmente àqueles recém-chegados ao pensamento de Marx: "mas há ideias que questionam essas ideias da classe dominante, a qual sempre tenta apresentar o seu mundo como o melhor e único possível. Como explicar então a existência de ideias divergentes das ideias da classe dominante?"

Para responder a isso, basta lembrar que o que foi dito há pouco: são as condições materiais que determinam a consciência. Por essa razão,
"A existência de ideias revolucionárias em um determinado tempo já supõe a existência de uma classe revolucionária, sobre cujos pressupostos já dissemos antes o necessário." (Ibid., p. 79)

Para finalizar, vamos resumir esses dois conceitos citando Abbagnano (2007):
"Marx de fato (cf. Sagrada família, 1845; Miséria da filosofia, 1847) afirmara que as crenças religiosas, filosóficas, políticas e morais dependem das relações de produção e de trabalho, na forma como essas se constituem em cada fase da história econômica. Essa era a tese que posteriormente foi denominada materialismo histórico. Hoje, por Ideologia, entende-se o conjunto dessas crenças, porquanto só têm a validade de expressar certa fase das relações econômicas e, portanto, de servir à defesa dos interesses que prevalecem em cada fase dessa relação."
Espero que essas citações tenham lançado alguma luz sobre as questões. Apesar de desnecessário dizer, devo alertar que algumas poucas citações nunca poderão esclarecer um assunto ao qual um livro inteiro foi dedicado por seus autores. Assim, espero que essa tentativa seja pelo menos um incentivo a se beber direto na fonte.


REFERÊNCIAS:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Tradução de Frank Müller. 3ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2005.

Fonte: perfeição.org

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